quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Para Onde Vai a Folha?

Recebi o email abaixo, leiam até o final, vale a pena!

Mensagem enviada à Ombudsman da Folha de São Paulo - Suzana Singer

Cara Suzana Singer: acompanho as suas colunas todas as semanas. Sei da tarefa espinhosa que é criticar o jornal que paga o seu próprio salário. Dentro disso, acho que talvez dos Ombudsmen que a Folha teve nestes anos todos, você seja a mais isenta e mais crítica, defendendo mais os interesses reais dos (as) leitores (as) e mesmo de um jornalismo equilibrado, nos moldes do Independent ou Guardian, ambos londrinos.

Quero me apresentar. Sou militante do PCdoB. Assinante do jornal há décadas, como também do Estadão. Por dever de oficio, como professor universitário que fui por 20 anos (Unimep, 1986 a 2006) e um sedento e viciado em informações, leia avidamente ambos os jornalões desta burguesia paulista, além do Valor que leio emprestado.

Estou impressionado com a linha editorial cada dia pior da Folha. Até o Estadão tem conseguido ser melhor aos finais de semana, mais equilibrado, ainda que também sofrível. Mas a Folha... Nada mais tem a ver com a Folha das Diretas Já, quando dava gosto ler seu jornal. Hoje ela esta intragável. Cada dia mais denuncista, mais pró-imperialista, mais neoliberal, em defesa de um modelo de capitalismo financeiro que vai acabando com e no mundo todo. Uma Folha cada vez mais pró-Israel e sionista, antiárabe e antipalestina. De todos os seus colunistas, quem escapa a esse modelo?

Na linha do Globo e da Veja, que viraram partidos políticos, a Folha envereda-se pelo mesmo caminho. Faz sistemática e constante oposição, raivosa muitas vezes, contra o governo federal, a quem não tolera de forma alguma. Atacou, mentiu e perseguiu o governo de um presidente operário por oito anos seguidos, depois de ter apoiado e idolatrado por outros oito anos o queridinho da mídia, FHC de triste lembrança. A Folha e as elites não aceitam que Lula tenha deixado o país com 73% de popularidade e hoje tenha incríveis 85%. Medidos pelo mesmo Instituto de propriedade do jornal, o Data Folha, de meu colega Mauro Paulino. A Folha e a mídia nativa não tolera que esse operário tenha elegido a 1ª mulher na história deste país – uma guerrilheira, torturada e lutadora contra a ditadura.

A suíte iniciada domingo contra o ministro Orlando Silva Jr. nosso camarada é tudo que um jornalismo não deve ser nem deve perseguir. A única e honrosa exceção esta em uma matéria hoje no Valor falando sobre o que teríamos por trás dessas denúncias. Claro, olho grande em um ministério que cresceu e se fortaleceu sob o comando dos comunistas. Que trouxe a Copa e as Olimpíadas para nosso Brasil. E a própria cobertura do seu jornal sobre as obras da Copa é como se o país inteiro, sua imprensa e suas elites, torcessem para dar tudo errado. A Veja chegou a dar uma capa que mencionava que as obras da Copa terminariam apenas daqui a 95 anos! E a Folha faz coro com isso. E acredite, Suzana, todas as 14 arenas serão rigorosamente entregues em dezembro de 2013, seis meses antes do início da Copa.

Recentemente o presidente Lula recebeu seu terceiro ou quarto título de doutor honoris causa. O seu jornal não dedicou quase nenhuma linha a isso. Claro, sei que você é remunerada para analisar a Folha. Às vezes também comenta sobre outros órgãos concorrentes. Mas, a blogosfera noticiou como a imprensa cobriu esse episódio em Paris. Como diz um blogueiro, para saber sobre Lula hoje temos que dominar o inglês, o francês e o espanhol, para podermos ler respectivamente no NYT, no Monde e no El País. Em português não se fica sabendo de nada ou sabe-se de forma enviesada. Você deve ter visto a que a correspondente do Globo fez ao diretor da Science Po, onde indagou porque o prêmio não havia sido dado ao ex-presidente e “príncipe” (sic) da Sociologia. Aqui, faço breve parêntese. Presidi a Federação Nacional dos Sociólogos deste país e atuei na liderança dos sociólogos e professores de Sociologia para que nossa ciência pudesse ser lecionada de forma obrigatória em todas as escolas médias do país, como no mundo civilizado. Pois bem. O tal “príncipe” da Sociologia vetou uma iniciativa aprovada na Câmara e no Senado em setembro de 2001. Mas, o governo de um operário – torneiro mecânico como o próprio Lula gosta de se apresentar – sancionou a Lei em 3 de junho de 2008. Estilos distintos, não?

O denuncismo da Folha continua matando pessoas. Mata-as politicamente. Destroi biografias, macha passados e presentes honrados. Mata sem direito a defesa. O jornal quer cumprir o papel, ao mesmo tempo, de acusador (promotor), de julgador (juiz) e de executor da sentença – carrasco. Isso impressiona. Nenhum grande jornal do mundo age assim. Em nenhum país do mundo a mídia faz o que quer, fala o que quer, sob o manto de uma difusa “liberdade de imprensa”. Para defender quais interesses? Para apresentar quais propostas?

O mundo inteiro esta desabando, fazendo água. O capitalismo encontra-se sob ataque em mais de mil cidades grandes do planeta. Wall Street encontra-se ocupada por três semanas, por uma juventude muito parecida com a que participou do levante no mundo árabe, dos indignados em toda a Europa. E qual a pauta central dos nossos jornalões? Os costumes! A moral! Os jornalões e suas famílias (Mesquita, Frias, Civita, marinho) apresentam-se como os maiores vestais da moralidade, dos bons costumes. Será que retrocedemos à década de 1950? E olha, nada contra ser honesto e íntegro, como procuramos ser. Mas isso não é carta programa. Parece-me que isso é básico para homens e mulheres que procuram a vida pública. Termos como “faxina” e fotos de vassouras para o ar e isso ocupar farto espaço do caderno nacional é a única proposta que seu jornal tem para o Brasil? Porque quatro páginas hoje na Folha, como no Estadão sobre Orlando? Que justifica isso? Aonde o jornal quer chegar? Derrubar ministros, para dizer que Dilma perde uma média de um ministro por mês em seu primeiro governo? Que exatamente os que ela herdou de Lula são os mais corruptos? E o direito à dúvida, à presunção da inocência, onde fica? E o tal “outro lado da notícia”, como mando vosso manual de redação (para que serve mesmo?), qual o sentido daquelas recomendações?

Porque a Folha e o que se chama de GAFE, que inclui Globo, Editora Abril com a Veja e o Estadão seguem resistindo a qualquer tipo de regulação e controle externo? O judiciário já tem, ainda que esteja sob contestação corporativa. Todos os países civilizados o possuem. Porque aqui vocês insistem em chamar essa regulação de “censura” (sic). Quer dizer que os órgãos de mídia podem falar o que quiser, sobre quem quiser, sem nenhum tipo de controle, de direito de resposta? Só nos restam às seções de cartas e no seu caso, a coluna do Ombudsman?

Será que seu jornal não percebe que o mundo mudou? Que o modelo neoliberal de “estado fraco” (para quem mesmo?), menos impostos, deus mercado é que manda e regula tudo, BC “independente” ruiu em todo o mundo? Que a crise de 2008 só não foi pior porque o velho e bom estado vem tentando salvar todas as empresas e bancos capitalistas com recursos públicos? Mas a imprensa nacional – em especial o seu jornal, desculpe o eufemismo quando falo isso, mas quero dizer o jornal a quem você serve – não percebeu isso? E olha que quando falo de BC independente que os editoriais da Folha tanto pregaram e batem no peito a exigir a cada momento, esta sendo contestado por figuras de proa na economia, como por exemplo Delfim Neto, Luiz Carlos Bresser Pereira e Yoshiaki Nakano. Eles agora dizem em alto e em bom som: pela primeira vez o BC tomou mesmo uma decisão independente. Só que independente do tal mercado.

Páginas e páginas são dedicadas à FHC, que segue verbalizando a mesma coisa que fazia há 17 anos, mas que não servem mais. Privatizações em nenhum lugar do mundo deram certo. Redução de impostos só beneficiam os ricos. O bolsa família não é bolsa esmola. É o maior programa de transferência de renda do planeta e o mais elogiado por todas as agências internacionais de apoio ao desenvolvimento da humanidade. Um programa premiadíssimo. Mas só a Folha, Globo e Estadão com apoio de Veja não viram isso. E todos esses órgãos, invariavelmente, vivem de anúncios, transformando a notícia em mera mercadoria à serviço dos seus donos, dos seus acionistas, de suas famílias e de uma elite branca e preconceituosa que odeia o seu próprio povo. Que torce para que tudo dê errado. Que não vibra quando o Brasil progride, quando diminuímos a desigualdade. Uma elite milionária que olha para o Norte, que teve suas proles educadas na Europa e nos “states”.

Vocês, jornalistas, não sabem dos dados, das informações? Um exemplo pequeno, onde atuei por duas décadas. O ensino superior público no país. FHC, de quem seus patrões tanto gostam, como seus amigos que literalmente aparelham o maior Estado do país, o de SP, com Alckmin e caterva, governou com o neoliberal Paulo Renato na educação e não foi capaz de criar uma única nova universidade federal. Lula, sem diploma de curso superior – imperdoável isso! – criou doze universidades federais em oito anos! E expandiu como nenhum outro na história o ensino superior. Hoje um doutor é contratado em uma IFES, com 20 horas e recebe pelo menos 7,5 mil reais ao mês! Quase que nos igualamos aos padrões de remuneração internacionais. Claro, ainda falta muito. Outro dado simples que Lula sempre mencionou. Entre 1900 e 2002, portanto em 102 anos, foram criadas 200 escolas técnicas no país. Lula em oito anos criou outras 200 escolas. Criou o PROUNI, hoje garantindo que quase um milhão de pessoas das classes “D” e “E” possam estudar e ter seu diploma de ensino superior. Eu poderia falar da nossa querida Petrobras, que FHC queria PETROBRAX (sic). Era a 15ª petroleira do mundo e quase foi privatizada. A imagem que tínhamos dela era a plataforma P-52 emborcada (posso estar errando o número, pois escrevo de cabeça e sem pesquisa). E fabricada no exterior. Com 27 mil empregados, não dava lucro algum, com dois terços do seu capital que reparte lucros e dividendos nas mãos de particulares e estrangeiros. Hoje, somos a 4ª petroleira do mundo. Temos o pré-sal, temos 110 mil empregados e nos orgulhamos disso. Poderia dar-lhe dados e mais dados. Mas fico com estes apenas, aos quais reconheço, podem ter algumas imprecisões.

Vejam os espaços editoriais que são concedidos ainda à FHC. Páginas e páginas de entrevistas, artigos assinados. Que esse senhor tem a dizer? E mesmo sobre Aécio. Seu editorialista Ricardo Melo, se não me falha a memória, criticou as duas páginas que o Estadão concedeu ao Aécio para que este laçasse a sua candidatura antecipada à presidência em 2014. Duas longas páginas. Seu editorialista ficou indignado! Por razões de oficio – eu também fiz isso – teve que ler a longa entrevista e nada encontrou que justificasse o espaço. Uma proposta sequer é apresentada. Um vestal da moralidade – ainda que tenha fugido do teste do bafômetro no Rio e até hoje não explique porque a rádio de sua irmã tem dez carros, a maioria importados, em seu nome – defendendo um abstrato “choque de gestão” (sic). Uma campanha udenista em pleno século XXI! Que proposta tem esse senhor para o país? O que ele defende para sairmos da crise? Quais são seus programas para diminuir e mesmo acabar com a horrenda desigualdade ainda existente no nosso Brasil? Que fazer para enfrentarmos a crise internacional, os ataques especulativos à nossa economia? Será que ele defende a queda brusca dos juros? Ou defende a maior transferência de renda para os mais ricos do país, que é a astronômica e vergonhosa taxa de juros de nosso país? Aliás, qual a posição de seu jornal sobre isso? Vi na edição de 1º de setembro, o Day After da primeira vez em que o BC do Brasil tomou uma atitude verdadeiramente independente – mas independente do mercado! – e foi criticado por todo mundo, encabeçado pelos Sardenbergs, as Leitões, os Mervais da vida e outros menos votados à serviço de umas 15 mil famílias e dos bancos que embolsam algo como 240 bilhões de reais ao anos de juros de nossa astronômica dívida pública. Isso é mais que o dobro de tudo que o governo federal investe em programas sociais e de transferência de renda. É o bolsa dos ricos. Esta pode e não é contestado. A outra, dos pobres, é uma vergonha! Pode isso? Não sei se você acompanha. Hoje centrais sindicais e entidades empresariais do país lançaram um vigoroso e correto movimento pela queda ainda mais acentuada dos juros aqui em SP. Apoiamos esse movimento. Esse novo pacto político entre correntes políticos e setores sociais pode estar a solução para o salto que precisamos dar (não confundir pacto com capitulação e conciliação de classes).

Não há uma linha, uma palavra de elogio dos donos de seu jornal a essas políticas. Ao contrário. Toda a linha editorial é para desqualificar essa transferência de renda. A explosão de vendas de automóveis, o congestionamento dos aeroportos – provas irrefutáveis de que uma nova e significativa parcela da população vem tendo sua renda ampliada – são mostrados como caos, como “descaso do governo” para com os aeroportos e estradas (sic).

Onde vamos parar com isso, Suzana?

Por fim, quero lhe dizer sobre meu Partido. É o mais antigo deste país com vida continuada. Não há como falar da história do Brasil no século XX sem falar do nosso PCdoB (cuja sigla em 1922 era PCB, mas surgiu fundado como sendo Partido Comunista do Brasil). Os donos de seu jornal não divulgam um Projeto para o Brasil. Nem devem tê-lo, pelo que depreendemos da linha editorial que acompanhamos (leio o seu jornal e o da família Mesquita desde que cheguei a Sampa com 16 anos em 1973 e tomei gosto pela política). Mas quero lhe dizer, que se seu jornal fizesse um jornalismo sério, não adotaria essa linha entreguista, pró-estadunidense como vem adotando (defenderam a ALCA, defendem abertamente o fim de qualquer proteção à indústria nacional e mesmo o recente socorro que o Pão de Açúcar fez ao BNDES para enfrentar o grupo Casino e o ataque predatório que ocorreu, resultando a completa e total desnacionalização do setor supermercadista de nosso país). É uma legenda honrada, feita e construída com sangue e suor de comunistas e patriotas de todos os rincões do país. São centenas os nossos mártires, os nossos perseguidos, os nossos presos e torturados, os nossos cassados, os nossos exilados. Para que tenhamos o Brasil que hoje temos.

Procure conhecer o nosso programa. Veja lá como contamos os dois principais ciclos civilizatórios que tivemos (1822 e 1930), quando a Nação inteira se uniu, resultando inclusive de um pacto político entre expressivas forças nacionais em defesa da pátria e do desenvolvimento nacional. Foram dois momentos em que demos um grande salto. Agora, diz nosso Partido, precisamos dar o terceiro e maior salto, para colocar nosso país entre as cinco maiores nações do mundo nos próximos vinte anos. Com justiça, democracia, desenvolvimento nacional e soberano, geração de emprego e renda, com valorização do trabalho, reforma agrária, respeito aos movimentos sociais, com integração solidária da América Latina. Devemos resgatar os ideais libertários de gente como Simon Bolívar, San Martin, Tiradentes, Getúlio Vargas, Prestes, João Amazonas, José Marti, Che, Fidel, Mariátegui, Tupac Amaru entre tantos outros. Você pode encontrar esse Programa, na íntegra no endereço http://www.pcdob.org.br/documento.php?id_documento_arquivo=1 Mas quero adverti-la. Há um risco enorme em você ler essa proposta de caminho socialista para nosso país. O de gostar imensamente do que lá esta escrito, sob pena de viver imensa contradição com seu trabalho nesse jornal que hoje, lamentavelmente, presta um desserviço à Nação brasileira.

Desculpe a extensão de minha mensagem. Mas fiquei e sigo indignado com a linha editorial do “seu” jornal, com a cobertura jornalística que vocês têm dado nas edições e particularmente de domingo para cá, a forma torpe, baixa e rasteira com quem cobriram e repercutiram a “denúncia” contra o ministro Orlando feita por esse Partido Política chamado Veja.

Saudações a quem tem coragem


Prof. Lejeune Mirhan
Sociólogo, Escritor e Arabista
Colunista da Revista Sociologia e do Portal Vermelho

Ego sum pauper. Nihil habeo. Cor dabo

(Eu sou pobre. Nada tenho. Darei meu coração)



Hoje milhões de crianças dormirão nas ruas no mundo. Nenhuma delas é cubana.

Violência contra a Mulher - SC 2014