quinta-feira, 11 de abril de 2013

É Tolerância Zero, Mesmo!!




Deputada Estadual Ana Paula Lima, eu, Sheila Sabag e Clara Charf

Hoje tivemos o privilégio de participar da primeira parte da Oficina “Redefinindo Paz – Tráfico de Mulheres e Violência Sexual: Metodologia de educação popular feminista específica para trabalhar com mulheres e homens”. A atividade realizada pela Associação Mulheres pela Paz proporcionou no decorrer do dia vários momentos de formação e reflexão.



Quando Clara Charf, com seus 87 anos, nos declara “soldadas da paz” e, ao trazer o conceito de paz nos propõe ações transformadoras de solidariedade e luta coletiva constante.



Quando Clair Castilhos, Vera Fermiano e Estela Cardoso trazem ao debate o feminismo e as relações sociais de gênero com recorte de raça e etnia, confesso: a emoção rolou.



São tantas forças contrárias ao nosso movimento, com as mais variadas formas de opressão, preconceito e discriminação; como: a ausência total do estado para coibir estas práticas; as diversas mídias reproduzindo violência diariamente; a escola, a família, a igreja, incentivando algumas práticas; que qualquer pessoa poderia nos chamar de “pobres sonhadoras”.



Por mais que os anos de militância feminista tenham mostrado o quão difícil é avançarmos com o debate desta construção social que definiu o que significa ser mulher ou ser homem. Por mais que tenhamos que reafirmar cotidianamente nossas bandeiras, não podemos nos calar frente à imensidão de desafios que nos são colocados, como no caso: da violência sexual e o tráfico de mulheres.



Falar sobre violência contra a mulher já é algo que mexe com a gente, quando essa violência é focada na questão da violência sexual, mexe muito mais. Mas quando o tráfico de pessoas vem à pauta e traz consigo o tráfico sexual de mulheres e meninas, não há outro sentimento que não o de lutar ainda mais, diariamente, para que as pessoas percebam o quanto podem transformar a sociedade, os costumes, a cultura, a educação. Ou o quanto podem transformar nossos bairros, cidades, estados, enfim, transformar o mundo.



A apresentação do Delegado da PF Ildo Rosa mostrou que temos um caminho a seguir, a PF tem mapeado toda a ação do Tráfico de Mulheres, como a rede funciona, de que forma podemos cercar e desconstruir sua forma e atuação.



Pensei: se temos um caminho, se há uma política nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas, por que não avançamos na questão da prevenção e atenção às vítimas e a responsabilização dos autores? A resposta veio em seguida, quando o Delegado nos alerta que esta atividade é a terceira maior fonte de riqueza no mundo, perdendo apenas para o tráfico de armas e de drogas. A “atividade” é tão rentável que o traficante chega a investir até 15 mil dólares no aliciamento da vítima. Paga suas dívidas, organiza a documentação, compra passagens, roupas, paga estadia, alimentação.



Ao ser questionado sobre algumas casas noturnas na região e o número de casos de tráfico de mulheres em Santa Catarina, o delegado deu a segunda resposta para a indagação acima e reafirmou o que já sabíamos. Todas as casas foram visitadas pela PF e o tráfico que acontece é o chamado “tráfico interno”, e esta investigação é de responsabilidade da secretaria de segurança publica do estado, os dados que a PF tem não podem servir de referencia para uma avaliação real da situação.



Pensei : Secretaria de Segurança Publica de Santa Catarina, mais uma vez, governo do estado. Se os boletins de ocorrência registrados em nosso estado por violência contra a mulher sequer tem inquérito policial instaurado. Durante um trabalho de pesquisa no banco de dados da SSP/SC, constatei que 44% dos boletins de ocorrência por estupro contra meninas e mulheres tiveram inquérito policial instaurado. Foram 2.334 que procuraram pelo socorro do estado por terem sido estupradas. Destas, 74% eram meninas (crianças e adolescentes). Se o estado não consegue implementar a Lei Maria da Penha e não consegue construir políticas de enfrentamento a violência doméstica, imagina se vai construir uma rede de prevenção ao tráfico sexual e de atenção a meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade.




Observando a querida Clara Charf, enquanto as companheiras do departamento da Mulher de Dionisio Cerqueira apresentavam o trabalho que a coordenadoria desenvolve no extremo oeste, pensei: minha doce referência de resistência e luta com décadas de militância, está aqui, a nossa frente, propondo ações para uma paz transformadora e eu não posso, em hipótese alguma, pensar em qualquer possibilidade que não seja o de atender seu convite.



E a questão é: ter tolerância zero a violência contra a mulher. Aproveitar todos os espaços possíveis de manifestação, seja no trabalho, na família, ou nas redes sociais, como espaços de formação permanente. E mostrar a todas as meninas e mulheres o quanto é importante conhecer a realidade, saber fazer as escolhas certas e que todas nós podemos reescrever nossas histórias.



O fundamental? Resistir, resistir cada dia mais, frente a toda e qualquer forma de violência contra meninas e mulheres. Um dia haveremos de ver brotar uma flor do impossível chão!



Amanhã teremos a segunda parte da Oficina, expectativas lá no alto...




Nenhum comentário:

Violência contra a Mulher - SC 2014