segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sobre a violência doméstica e o empoderamento das mulheres


O Fantastico apresentou no dia de ontem uma matéria sobre mulheres vitimas de violência doméstica. A matéria está bem interessante, mas eu ainda não estou convencida dos dados apresentados na pesquisa, pelo simples fato de que não temos em todos os estados um banco de dados confiável sobre a violência doméstica contra a mulher.
Com base na reportagem, a cada 5 minutos uma mulher é agredida no país, se trabalhamos com informações de dados precários, penso que este número vai muito além.
Mas e o que fazer para que esta realidade mude?
A Academia tem produzido materiais bem interessantes, mas são poucos os espaços para que as mulheres agredidas sejam realmente ouvidas e tenham suas necessidades garantidas. o que pode ser uma dificuldade para a "Maria", pode não ser para a "Ana", ou a "Joana".
Escrevi um texto há alguns anos para o MMTU/SC falando sobre a importância do empoderamento das mulheres para romper com o ciclo de violência vivida no espaço privado de seus lares.
Neste material afirmamos o que Nelly Stromquist escreve em “La busqueda del empoderamiento: en qué puede contribuir el campo de la educación”, quando afirma que os parâmetros do empoderamento são: a construção de uma auto-imagem e confiança positiva; o desenvolvimento da habilidade para pensar criticamente; a construção da coesão de grupo; a promoção da tomada de decisões; a ação. E que esse processo de avanço da mulher se dá através de cinco níveis de igualdade: bem-estar, acesso aos recursos, conscientização, participação e controle.
Ainda para Stromquist, uma perfeita definição de empoderamento, deve incluir os componentes cognitivos, psicológicos, políticos e econômicos.
Componente cognitivo refere-se à compreensão que as mulheres têm da sua subordinação assim com as causas desta em níveis micro e macro da sociedade. Envolve a compreensão de ser e a necessidade de fazer escolhas mesmo que possam ir de encontro às expectativas culturais e sociais.
Este componente cognitivo do empoderamento também inclui um novo conhecimento sobre as relações e ideologias de gênero, sobre a sexualidade, os direitos legais, as dinâmicas conjugais etc.
O componente psicológico inclui o desenvolvimento de sentimentos que as mulheres podem pôr em prática a nível pessoal e social para melhorar sua condição, assim como a ênfase na crença de que podem ter êxito nos seus esforços por mudanças: autoconfiança e auto-estima são fundamentais.
O componente político supõe a habilidade para analisar o meio circundante em termos políticos e sociais, isto também significa a capacidade para organizar e promover mudanças sociais.
E o componente econômico supõe a independência econômica das mulheres, esse é um componente fundamental de apoio ao componente psicológico.
Ao compreender o mundo ao redor, as mulheres passam a ter um novo olhar sobre a sociedade, sobre seus direitos, sobre ela mesma. E para as que sofrem violência doméstica, há o grande dilema FICAR X PARTIR.
O ficar ou partir compreende que a mulher precisa aprender a dizer um basta e a colocar suas condições. Ela precisa quebrar o silêncio que se instala em torno da violência.
Ficar, enquanto estiverem sob sujeição, as vítimas terão a sensação de que não há solução. Mas quando ´se desligam` e ousam reagir, ficam surpresas de ver que o homem que as agredia e que lhes dava medo é, na realidade, alguém frágil, sustentado por pensamentos machistas.
Para partir é necessário reconhecer que não vai conseguir mudar o outro e decidir, finalmente, preocupar-se consigo mesma. Há pesquisas que indicam que as mulheres que não sofreram violência na infância, tem uma boa auto-estima, boas relações sociais para apoiá-las, trabalho que a dê uma certa autonomia financeira, esclarecimento de seus direitos, estas tem mais condições para reagir.
Há de se considerar ainda que, a maior parte dos homicídios de mulheres cometidos pelo cônjuge tem lugar no momento em que elas saem de casa ou quando demonstram essa intenção. Já fragilizada, pela agressão, ainda há a insegurança de como sobreviver fora daquele espaço.
Questionei a relatora da CPMI da implementação da Lei Maria da Penha, Senadora Ana Rita, se em algum momento pensariamos as mulheres que abandonaram o lar e que hoje estão sem poder acompanhar seus filhos por terem perdido a guarda, ou ainda, as mulheres que cometeram suicidio.
Se, conforme lemos acima, é tão dificil decidir pelo PARTIR, sabendo que o partir sem apoio é praticamente impossivel.
Se, nem a familia e amigos sabem do que acontece, uma eficiente estratégia do agressor é o de isolar a vitima de suas relações sociais e familiares.
Se, o estado mantem-se omisso com medidas de proteção, não há instrumentos que façam o enfrentamento, as delegacias não são especializadas, não há entendimento inclusive da sociedade que "em briga de marido e mulher a gente mete sim a colher".
Se não há uma fórmula mágica para romper com o ciclo de violência, a mulher não encontra a solução para o fim da violência, ao invés de ficar ou partir, ela desiste. E a única saída possível para algumas mulheres pode ser o abandono e em alguns casos, pode ser o próprio suicídio.
Para Marie-France Hirigoyen, em seu livro “A violência no Casal – da coação psicológica à agressão física” - As mulheres vítimas de violência são, muitas vezes, censuradas por não reagir, por serem excessivamente submissas, mas, na realidade não fazem mais do que desenvolver estratégias de adaptação para limitar a violência do parceiro e preservar o casal e a família. Mantidas em estado de dependência psicológica e sofrendo violências, continuam acreditando que só esse homem é capaz de protegê-las do mundo exterior. Por isso, a perspectiva de se encontrarem sem recursos e em carinho é para elas mais temível que a própria violência. Se relutam tanto em sair dessa situação, é porque não é tão simples assim sair da sujeição. É uma prolongada tomada de consciência que requer apoio, a fim de conseguir perceber as ´armadilhas`. Muitas mulheres ficam em cima do muro, não querendo continuar a suportar a violência, mas também não sabendo como sair dessa situação.
Penso que para rompermos definitivamente com a violência doméstica e familiar contra as mulheres, faz-se necessário que alguns atores sociais cumpram com seu papel, que vai desde um novo marco regulatório para a comunicação - não adianta a Globo fazer uma matéria sobre violência se mantem um BBB no ar pregando a violência. As mudanças de conceitos sobre família com a contribuição das Igrejas - que teimam em afirmar em seus sermões que as mulheres devem obediência aos seus maridos e que fomos expulsos do "Paraíso" por responsabilidade de Eva. E, um ponto que penso ser fundamental, um intenso e amplo debate sobre a sociedade capitalista que vivemos, que transforma pessoas em coisas e nos dão o direito de acreditar que somos donos do corpo, da mente, das vontades de quem dizemos amar.
Beijarinhos Meus a quem passar por aqui e ler. E se gostou, compartilha!

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Schi,
muito esclarecedor seu artigo!
E parabéns pelo trabalho desenvolvido em seu blog!

Eu trabalho diretamente com este tema e tenho muito interesse em conversar com você oportunamente. Busquei no blog uma informac,ao de contato, mas não encontrei.

Um caloroso abraco,
Betty (bettyn20@hotmail.com)

Violência contra a Mulher - SC 2014