terça-feira, 4 de agosto de 2015

Diálogo com Sr Prefeito Cesar Souza Junior



Ao Sr Prefeito Cesar Souza Junior,
Sou Mulher, Mãe, trabalhadora, nascida em Florianópolis. Constitui a minha família nesta cidade, com três filhos e uma neta, tambem nascidos em Florianópolis. Meus filhos sempre estudaram em escola pública e confesso que nunca fui a favor das aulas de educação religiosa e dos crucifixos encontrados em vários espaços públicos.
De certa forma, concordo com o que o Senhor afirmou ao finalizar a reunião que teve com lideranças evangélicas e católicas; "A educação e a religião são atribuições da família. A prefeitura e o Estado não podem se intrometer".
Concordo Senhor Prefeito, "[...] a promiscuidade entre os poderes públicos e qualquer credo religioso, por ela interditada, ao sinalizar endosso estatal de doutrinas de fé, pode representar uma coerção, ainda que de caráter psicológico, sobre os que não professam aquela religião.(Sarmento - 2008, p. 191).
Senhor Prefeito,
Perante a Constituição Federal, "Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;"
Com base neste Artigo, quero aqui registrar que, contrário a todas as discussões e construções coletivas realizadas neste Município com diversos setores da sociedade, sobre o Plano Municipal de Educação, o Senhor está assumindo publicamente a aliança e firmando um contrato com representantes de duas religiões quando afirma: "Da minha caneta, nada que diga respeito a ideologia de gênero será encaminhado à Câmara. Assumimos aqui esse compromisso público."
(Tal fala está registrada em matéria publicada pelo diario catarinense e on line no link http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2015/07/em-reuniao-com-lideres-religiosos-prefeito-de-florianopolis-garante-que-retirara-genero-do-plano-de-educacao-4813148.html) 
Ressalto,
O Senhor, fez esta afirmação ao final de uma reunião com lideranças evangélicas e católicas, que solicitaram a retirada da questão de identidade de gênero ou sexualidade do Plano Municipal de Educação. Ao realizar esta medida, de forma arbitrária e equivocada, nossas escolas deixarão de debater temas importantes e de relevância quanto ao interesse público.
Temas como violência doméstica, adolescência e sexualidade, gravidez, paternidade responsável, e, claro, orientação sexual. Esconder de nossas crianças e adolescentes que vivermos em uma sociedade machista, sexista, homofóbica, é permitir que nosso Município continue na contramão de tudo o que os tratados internacionais assinados pelo Brasil esperam de nós.
Eu quero viver com a minha família em uma cidade sem preconceitos, discriminação, violência, e um dos principais instrumentos para que isto aconteça, é através da educação.
Registro ainda a fala do superintendente do Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof) e pastor da Assembleia de Deus, Sr Everson Mendes ao término da reunião: "Vitória da família e do povo de Deus".

Senhor Prefeito, 
Saiba que apenas este "povo de Deus" ganha com esta "aliança". A minha família que respeita Oxalá, Buda, Alah, Maomé, Jeová, ou qualquer outro nome ou forma de representação, continua sendo uma família florianopolitana e não estará contemplada e nem representada por tal "canetada".


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